Faz 13 anos que Jim, Kevin, Oz e Finch realizaram um pacto para
perder a virgindade na tão sonhada festa de formatura do colegial, o que
rendeu uma das melhores comédias da década de 1990, “American Pie: A
Primeira vez é Inesquecível”. Exemplar do subgênero da comédia do
embaraço, o humor escatológico gravitava mormente ao redor dos esforços
do protagonista Jim e as danações de Stifler, esforçando-se em
questionar e criticar os dogmas sexuais da conservadora sociedade
norte-americana que transformava a conjunção carnal em um insuperável
tabu para os mais jovens. Mas, a intenção da narrativa jamais era
ofender, o que é notável em metade das outras comédias politicamente
incorretas, e a grosseira de alguns momentos mascarava-se na ingenuidade
e imaturidade das ações do protagonista.
Os episódios seguintes, apesar de não manterem o padrão e a qualidade
do original, eram agradáveis o suficiente para justificar a revisita
nostálgica de American Pie: O Reencontro. Por bem e por
mal, é isto que o roteiro de Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg, que
dirigem, propõe-se a fazer, estando mais interessado em tecer homenagens
àqueles personagens do que de estabelecer os alicerces de uma nova
franquia. Assim, ao nos reencontrarmos com a turma para um final de
semana em que eles reviverão os tempos de colégio, descobrimos que a
vida adulta não foi exatamente recompensadora como eles sonhavam que
seria. Jim (Jason Biggs) mantém-se casado com Michelle (Alyson Hanning) e
pai de um garotinho mal explorado pelo roteiro; Kevin (Thomas Ian
Nicholas) é um arquiteto que passa a maior parte do tempo como “dono de
casa”; Oz (Chris Klein), um apresentador esportivo e ex-participante de
uma dança das celebridades; Finch (Eddie Kaye Thomas) é aparentemente o
mais bem sucedido, enquanto Stifler (Seann William Scott) é estagiário
em uma grande multinacional.
Muitos os taxariam de promessas não-cumpridas, similar aos
respectivos intérpretes que, exceção feita a Seann William Scott, não
emplacaram uma carreira
bem sucedida em Hollywood. Nada mais injusto! Aqueles ex-jovens
integram agora a estatística média do adulto norte-americano presos à
ideia de que os sonhos extraordinários traçados previamente dificilmente
se materializarão e, embora envelheçam, a personalidade deles permanece
a mesma de 13 anos atrás. Logo, apesar de Jim afirmar que “as coisas
não voltam a ser como eram antes”, amadurecer não implica abandonar as
lembranças e o passado que, invariavelmente, volta à tona; assim, a cena
inicial recontextualiza, com relativo sucesso, a tendência do
protagonista de se meter em situações surreais e constrangedoras sempre
que o sexo está em pauta.
Nesse sentido, a dupla de diretores/roteiristas expõe Jim a uma série
de situações embaraçosas, bizarras e potencialmente hilárias. Eles
também não se furtam de reconhecer aqueles que são os personagens mais
engraçados da série: Stifler e o Sr. Levenstein (Eugene Levy). Se o
primeiro está sempre envolvido nas cenas mais impolidas, com órgãos
genitais e gags visuais, o pai de Jim, agora viúvo, também tem seus
momentos – principalmente na hilária sequência envolvendo a participação
numa festa e a fuga empregada na chegada dos policiais.
Por outro lado, seus outros colegas não têm tanto sucesso e Kevin
continua um aborrecimento no seu romance mal-resolvido com Vicky (Tara
Reid, péssima atriz incapaz sequer de simular estar dormindo). Já Chris
Klein, cuja carreira de galã jamais deslanchou, perde a chance de
brincar com o paradigma de pseudo-celebridade de Oz, reciclando piadas
exaustivamente conhecidas e levando consigo a “beleza americana” Heather
(Mena Suvari, insossa e apagada). Finalmente, Finch tem bons momentos,
mas é descartado da mesma maneira que Selana (Dania Ramirez).
Dono de mais acertos do que erros, American Pie: O Reencontro
é igual à visita de Jim a seu antigo quarto, uma jornada saudosista,
rejuvenescedora e agridoce, por mais vergonhosas que cremos que estas
foram à época. Ao escutar a música tema da trilogia original não há como
não sentir saudades daquele bando de desajustados, mesmo que, numa
análise mais rigorosa, eles mereciam um filme melhor e menos reverente
do que este.
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