Crítica - O Ditador


O Ditador poster 18Abr2012Quantas vezes Sacha Baron Cohen ainda vai invadir os EUA até perceber que já não é mais um estranho no ninho?
O Ditador (The Dictator) repete não só a parceria do ator com o diretor de Brüno e BoratLarry Charles, como recicla a premissa desses dois filmes anteriores: uma figura excêntrica do outro lado do Atlântico chega aos Estados Unidos e perde-se nos excessos do capitalismo e da cultura de massa, para depois se reinventar assimilando as hipocrisias do discurso americano.
Desta vez o estereótipo satirizado é o do ditador espalhafatoso de países árabes, como Muammar Kadafi. Cohen interpreta o Almirante-general Aladeen, regente da República de Wadiya, que em visita à ONU em Nova York para explicar seus testes nucleares acaba sequestrado - e barbeado. Sem seu visual característico, ele assiste ao seu tio traíra Tamir (Ben Kingsley) assumir o poder. Com a ajuda de uma feminista vegetariana do Brooklyn (Anna Faris), por quem se apaixona, Aladeen tenta reconquistar seu trono.
A trama romântica (que apesar de uma ou outra escatologia mais surtada até que é bastante comportada) é o primeiro sinal de que a fórmula de Cohen e Charles já foi assimilada por Hollywood. Sendo o cabo-de-guerra da assimilação - bancar o estranho ingênuo para subverter a rigidez dos códigos estabelecidos - o centro nervoso dos filmes da dupla, fica a impressão de que em O Ditador o feitiço se vira contra os feiticeiros. E como as situações também são mais encenadas do que na época das pegadinhas espontâneas de Borat, é inevitável pensar que o comediante acabou domesticado.
Como caso de estudo, O Ditador  se parece com ascomédias da segunda metade dos anos 1990 que Lorne Michaels, o criador do Saturday Night Live, produziu no cinema com personagens saídos do humorístico, para tentar reproduzir o sucesso de Quanto Mais Idiota Melhor(1992). O saldo - filmes como Os Estragos de Sábado à Noite (1998) e O Tigrão (2000) - cometiam erros que agora O Ditador repete: acreditar que um personagem cartunesco tem, por si só, a capacidade de se enquadrar numa receita hollywoodiana de cinema sem ver sua força diluída.
O fato de O Ditador fazer piadas constantes com oestablishment hollywoodiano - Aladeen tem no quarto um mural com fotos das celebridades com quem transou, sem falar no empresário chinês que coleciona sodomias com galãs - contribui para inflamar essa sensação de que Cohen estacionou no passado. Ele ainda age como se fosse o estrangeiro, mesmo estando hoje plenamente incorporado pela indústria. Até quando?

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